É raro alguém me ouvir reclamar sobre a profissão. Primeiro porque sou genuinamente apaixonada pelo que faço, segundo porque eu sei que – cientificamente falando, reclamar ativa circuitos cerebrais ligados à negatividade, tornando-nos mais propensos a enxergar problemas ao invés de soluções.

E não, isso não é positividade tóxica. O dia que você levar sua mente ao limite, vai entender a importância de cultivar hábitos que favorecem o bom funcionamento do cérebro.

Mas hoje eu vou reclamar.

Como sei que muitos redatores publicitários me acompanham por aqui, preciso ser sincera sobre o ônus de ser namer, área que, acertadamente, escolhi me especializar.

Criar nome de marca é lidar diariamente com a expectativa do público. Até aí ok, porque todo profissional de criação passa pelo mesmo desafio. Mas quando um cliente de identidade visual ou arquitetura mostra suas referências, é possível ter uma ideia mais clara sobre o que ele considera bom ou ruim, bonito ou feio. 

No Naming é diferente. 

As pessoas simplesmente não julgam um nome de marca pelo nome em si. O que elas chamam de “bom nome” é, na verdade, um conjunto de fatores: produto, serviço, campanha, logotipo, embalagem… enfim, a gestão da marca como um todo.

Já ouvi de mais de uma cliente que amaaaaa o nome Zara. “Por que?”, pergunto, “porque é curto, chique, moderno e blá blá blá”. 

E eu sempre penso: e se “Zara” fosse uma lojinha popular do mercado municipal, será que amariam mesmo esse NOME?

Não que Zara seja ruim, é sonoro, simples, minimalista (como tudo o que tem sido considerado chique, ultimamente, para não dizer “sem personalidade”), mas qual o conceito ele carrega?

Dos 4 critérios de avaliação – sonoridade, normatividade, conceito e originalidade, o meu preferido é, sem dúvidas, conceito. Os nomes mais interessantes são aqueles que nos permitem contar as melhores histórias!

Juntar a sílaba “sei lá” com a “não importa” é fácil, difícil é transformar isso em uma narrativa envolvente. 

E não importa o quaaaaaaaaanto eu explique que nome de marca tem o significado que a gente dá, no fim do dia, o cliente sempre vai optar pelo mais literal, ainda que no briefing tenha solicitado algo inovador e disruptivo. 

Desabafo feito, que tal interpretarmos literalmente os nomes das maiores marcas do Brasil e do mundo, só de sacanagem? Hahaha

 

Interpretando literalmente nomes de marcas icônicas

Interpretando literalmente, alguns nomes famosos podem soar mal, se analisados sem as respectivas narrativas. Veja:

  • Apple – “Parece marca de tecnologia exclusiva para produtores rurais!”
  • Nubank – “Parece banco voltado para pessoas pervertidas!”
  • Lego – “Parece um curso de autoajuda para inflar o ego!”
  • Havaianas – “A marca é brasileira ou não?”
  • Amazon – “Parece que só vendemos produtos do Amazonas!”
  • Coca-Cola – “Cocaína que cola? Esquisito isso, hein!”
  • Adidas – “Parece que tá incentivando o público a adiar os treinos!”
  • Gol – “Companhia aérea que só transporta times de futebol?”

 

Todas as palavras que ouvimos são formadas por sílabas que já conhecemos, então nosso cérebro busca referências familiares para dar sentido. Por isso, em um processo de Naming, muitos clientes tendem a interpretar os nomes de forma literal, sem levar em conta o potencial de construção da narrativa da marca.

Quanto mais literal, mais sem graça e mais difícil de conseguir registro no INPI.

Quer um nome de marca memorável? Permita-se ver além da literalidade!